Eram dez para a meia-noite. Estava a descer a rua quando te vi. Noto que por cima de ti não chove, mas que eu venho saída do mar e penso que sou uma sereia que se perdeu há anos e não sabe que já não tem cauda.
Os sapatos são barcaças chatas que fazem barulhos que soam ao desentupidor de borracha no lava loiças da minha avó, o cabelo risca com os restos de rímel linhas curvas e escuras no rosto, e eu sinto-me um monte de miséria pronta a ser torcida para um balde de águas passadas.
Paro por baixo das arcadas, acendo um cigarro e espero junto a ti.
Olá- dizes -Aqui não chove.
- Olá. Sim, mas tenho de seguir.
- Não vás já. Entra e sobe... fiz um bolo, dividimos. Eu parto, tu escolhes.
Olá- dizes -Aqui não chove.
- Olá. Sim, mas tenho de seguir.
- Não vás já. Entra e sobe... fiz um bolo, dividimos. Eu parto, tu escolhes.
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