domingo, 12 de julho de 2020

Gourmandises



Apetece-me cozinhar-te em lume brando.

Estás cru. Seguro-te com as duas mãos, retiro-te da embalagem com os meus dedos a colher-te como pinça, sinto-te a textura fresca, tensa, sinto o teu peso, cheiro-te em ânsia e confirmo perdida de vontade que me vais saber bem. Inalo nano- partículas até encher o peito de ti, chegas-me ao palato espessas-me a saliva pelo tanto te querer provar, molho-te com a língua, e sinto-te o gosto. Aliso-te de mãos espalmadas e redefino-te formas enquanto as moldas a mim.
Tempero-te comigo. Deixo-te depositado o meu sal e o meu óleo e adejo-te ramos de tomilho embebidos em calda de citrinos. Não te deixo repousar sob meu corpo, besunto-te a carne e humedeço-te os sulcos, rolo redondos, daqueles rosa pimenta, que incorporas. Aperto-te e escorregas como êmbolo que inebria num casulo ao meu toque.
Vou-te virando enquanto te aqueço a fogo e sinto escorrer os sucos que recupero sobre a tua pele tostada. Contenho-me a não te devorar al dente. Com fome.
Estalas agora, crepitas, oiço-te, estás tão quente, tentas-me...

Estás pronto. Vou-te comer.

Fotografia: Poached pear, by Jill Keller