Play here: Nils Frahm, Hammers
Vejo-te chegar. Ruges hurras à
passagem, dás passos a fazer tremer o chão.
Sim, os bichos fogem, és o lobo do
homem. És um e sem seres, sentes-te mil.
Vem! Desafio-te. Chega a mim num
batalhão.
Aviso-te que me blindei, que
não me fazes vacilar. Não me trespassas, não passas. Hoje nada podes. Mas vá,
vieste, arremete então. Aponta e atira. Satisfaz a ânsia de deixares como
touro o teu rasto e nuvem de pó no chão, no ar depositado em mim que não
me faz pestanejar. Esgota as forças. Dá tudo. Lança-me chamas, charme. Investe!
Sentes a náusea do esforço? A
cãibra a tolher-te? Ensopaste-te em suor, esse que te oxida em
ferrugem estaladiça o tronco? Olha-me! Vê-me indemne. Repara, não sorrio, não
derramo choro a hidratar a terra. Queimei-a!
Ficou estéril cultivada com escorrer do teu sal. Não
existo aí onde me defrontas, não me vergas porque não tenho mais corpo para
dobrar e morderes a nuca. És um Homem sem lobo, sem batedor nem faro e não
tens mais como seguir-me.
É agora que, sem perdão
nem prisioneiros, te deixo partir. Levanta-te! Parte! Silencia a
derrota e lambe exausto os pulsos já sem empunharem
mangual. Apazigua-te. Nada temas, que não dou ao arauto anunciar
solene a tua vergonha.
Photo: Faca 2005 Duarte Belo