sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Comfortably Numb

..

Veio um convite. 
Sabia que o era porque lia “Convite” em letras redondas empoladas a prata. Tinha uma flor de tecido numa fita de cetim a colar-lhe as pontas, como lacre. Abriu-o como quem abre um cubo com sustos, que encerram um palhaço tirano com fome de espantar. Estava vazio de letras ou insinuação. Não tinha onde, quem e porquê. Não havia remetente, ementa ou Porto de Honra, não tinha como trajar, ou quando ir.
Incomodou-o.

Depois veio uma caixa.
Descobriu que não o era porque quando desembrulhou o papel pardo, viu que tinha forma de caixa mas não tinha tampa ou abas para abrir. Sentou-se.

Recebeu ao terceiro dia um copo de vidro grosseiro com uma palhinha em celofane. Encheu-o de água, soprou e deixou as mágoas borbulhar em jacuzzi.

Esperou e não chegou mais nada. 
Um ano depois, recebeu um espelho partido.



Sem comentários:

Enviar um comentário